Maria Baptista Nery

A Procuradora de Justiça Maria Baptista Nery nos conta como encontrou nova atividade após aposentadoria

 

Normalmente, para evitar a depressão, as pessoas fazem planos para a vida pós-aposentadoria. Afinal, aposentar-se não significa “pendurar as chuteiras”. A Procuradora de Justiça e artista plástica, Maria Baptista Nery, é exemplo de otimismo e perseverança no critério “atividade”.

 

Ao contrário de muitos, ao se aposentar em 2000, encontrou outra atividade para se ocupar, proporcionando-lhe prazer e satisfação. Em 2003, fez vestibular para o curso de Artes Plásticas, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e formou-se no ano de 2009. Hoje, cria belas imagens de gravuras, que são reproduzidas a partir de uma matriz.

 

Nasceu no dia 20 de abril de 1949, em Cachoeiro de Itapemirim/ES, onde viveu até completar 18 anos de idade. A Procuradora e gravurista é filha do sargento da Polícia Militar do Espírito Santo (MPES), João Baptista Nery, e da senhora Cenyra Damasceno Nery. Teve sete irmãos, dos quais restam três.

 

Antes de ser gravurista, ao completar 34 anos, passou no concurso do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), classificada em 2º lugar, no ano de 1983. Na ocasião, quando no exercício da função esteve em várias Promotorias de Justiça do MPES. Sua primeira Promotoria como titular foi a de Pinheiros, no norte do Estado.

 

Na sua infância, morava em uma casa de quintal grande, se divertia aproveitando ao máximo esta liberdade. Mas, apesar de desfrutar das brincadeiras, não se esquecia da responsabilidade do estudo, sem precisar que os pais a mandassem. Na verdade, cresceu ouvindo o pai dizer: “O dinheiro é curto, mas o que eu posso lhe dar ninguém irá tomar: o estudo”.

 

 

A senhora foi criada no Espírito Santo? Como foi sua Infância?

 

Fui criada em Cachoeiro de Itapemirim até os 18 anos. Vida solta de criança do interior, numa casa muito grande e com quintal imenso, onde me divertia subindo em árvores para comer o fruto colhido na hora, mas com a responsabilidade de estudar sem precisar que meus pais mandassem, pois cresci ouvindo meu pai dizer: “O dinheiro é curto, mas o que posso lhes dar ninguém irá tomar; o estudo”.

 

Com quantos anos se tornou Promotora de Justiça Substituta do MPES? Como foi sua atuação ministerial e quando se aposentou?

 

Com 34 anos prestei concurso para o MP e classifiquei-me em 2º lugar. Como Promotora de Justiça Substituta, minha primeira lotação foi Linhares, onde trabalhei com o hoje Desembargador, Sérgio Bizzoto Pessoa de Mendonça, com quem muito aprendi. Minha primeira Comarca, como titular, foi Pinheiros no norte do Estado. Trabalhei também em Ecoporanga, Castelo, Afonso Cláudio, Anchieta, Domingos Martins, Guarapari, Colatina, Serra, Vitória e Vila Velha. Em 1995, fui promovida para a Procuradoria-Geral de Justiça e aposentei-me no ano de 2000.

 

Como descobriu sua vocação para trabalhar com as leis?

 

Bem, com as leis, desde cedo eu soube disso, pois me lembro de que, ainda criança, sonhava em estudar Direito, o que se tornou realidade quando passei no vestibular da Universidade Federal do Espírito Santo em 1972. Trabalhei no meio forense após concursos no Tribunal de Justiça do Estado e no Tribunal Regional Eleitoral. Após a conclusão do curso de Direito, além de trabalhar no TRE, dividia a banca de advocacia do Edifício Sarkis com os colegas Carlos Alberto de Souza Rocha, Abrahão Sezefredo Andreão e Carlos Sizorino Cotta (ambos falecidos), Raimundo Siqueira Ribeiro e Walace Pandolpho Kiffer. Mais tarde, após essa vivencia, optei então por fazer concurso para o Ministério Público.

 

A senhora sempre gostou de artes?

 

Posso dizer que sempre gostei de História, principalmente, da história da arte, mas tive pouco tempo para essa convivência. Assim, depois de minha aposentadoria, em 2000, comecei a buscar resgatar algumas coisas de que gostava e que nunca tinha tempo ou dinheiro para me dedicar. Passei a viajar e nas horas de folga, comecei a estudar desenho, pintura. Resolvi fazer o vestibular para o curso de Artes Plásticas, em 2003, vindo a formar-me em 2009.

 

Na Faculdade de Artes, levei um tempo enorme para me aproximar da gravura, mas quando vi, estava tão apaixonada, que apresentei meu trabalho de conclusão de curso nesta área, com duas pesquisas. Uma delas foi levada ao 1º Simpósio Iberoamericano de Arte Impresso, em San Miguel de Tucuman, na Argentina, no mês de julho de 2012.

 

As obras retratam alguma trajetória pessoal da senhora?

 

Creio que não, embora minha analista diga que minha poética sim.

 

Ainda lembra-se da primeira gravura que fez?

 

Sinceramente, não! Mas dentre as primeiras, tenho uma preferida, feita a partir de um piso de linóleo com a técnica de matriz perdida.

 

Qual técnica a senhora utiliza?

 

Normalmente, dependendo tipo de material que vou usar. Uso a gravura em relevo, que consiste em fazer incisões sobre uma prancha de linóleo, sendo depois entintada para fazer a impressão. Esse processo é o básico, mas desenvolvo uma pesquisa, que procura fazer impressões semelhantes à técnica da água-forte sobre metal, utilizando a soda cáustica como mordente sobre o linóleo.

 

Quais os seus gravuristas preferidos?

 

Claude Fligth, Picasso, Oswaldo Goeldi, J.Borges.

 

Tem alguma gravura preferida sua ou de outro gravurista?

 

Dentre tantas gravuras que já vi, é muito difícil eleger uma preferida. Mas, na viagem que fiz recentemente à Argentina, conheci o trabalho de Norberto Onofrio, gravurista argentino do século XX, que sem dúvida impressionou-me pelo domínio da técnica.

 

Em quais locais podemos admirar seu trabalho?

 

Atualmente, no Museu de Arte do Espírito Santo (MAES) onde estou participando da exposição Gravuras/ES, paralela à mostra: “A Gravura de Lasar Segall, Poesia da Linha e do Corte”, que fica aberta até o dia 28 de outubro. Além disso, no meu Ateliê 904 (Av. Champagnat, Ed. Nilton de Barros, 9º andar, em Vila Velha).

 

A senhora costuma participar de exposições de artes no exterior? Qual a última viagem fez para apresentar o seu trabalho?

 

Sim. Em 2010, instalei com a colega Franquilandia Raft, o Ateliê 904. Minha pretensão era pesquisar a gravura em suas várias formas. Comecei a participar de workshops em São Paulo, mais precisamente no Museu Lasar Segall e a participar de editais relacionados com a técnica. Paralelamente, comecei a pesquisar livros de artistas, no segmento da arte, relativamente novo, se comparado p. ex à pintura e este ano foi bastante produtivo.

 

Em abril, participei da Exposição Coletiva “Ateliê 904”, no Museu de Arte Contemporânea de Jatai, Goiás. Tive um livro de artista selecionado pelo certame Masquelibros para uma exposição em Madri, que aconteceu em julho deste ano. Também participei junto com os artistas do Ateliê 904 (Franquilandia e André Magnago) da 2ª edição do evento SP ESTAMPA, realizado de 7 a 31 de maio deste ano, pela Galeria Gravura Brasileira de São Paulo.

 

Durante o evento, apresentamos a obra Caixa de Gravura comemorativa ao terceiro aniversário do Ateliê 904. Além dos artistas do Ateliê, a confecção do trabalho contou com a participação de integrantes do Grupo Célula de Gravura da Ufes. A Caixa em comemoração dos três anos de atuação do Ateliê ficou exposta em São Paulo no mês de maio.

 

Além disso, estive presente no 1º Simpósio Iberoamericano de Arte Impreso, realizado em San Miguel de Tucuman, noroeste da Argentina, uma cidade universitária. O evento aconteceu no período de 25 a 27 de julho de 2012 e apresentei uma pesquisa que comecei a desenvolver na Faculdade que trata de monotipia sobre matrizes de gelatina.

 

Ainda este ano, tive uma gravura selecionada pelo V Concurso - Intercâmbio de Grabados “El Rinoceronte de Cristal”, realizado em Madri, e desde o dia 10 de agosto estou participando da exposição coletiva paralela à exposição “A Gravura de Lasar Segall: Poesia da Linha e do Corte”, no Museu de Arte do Espírito Santo (MAES). A exposição vai até o dia 28 de outubro.

 

O que a senhora traz de novo para o cenário de artes capixaba?

 

Eu, os meus colegas do Ateliê 904 e o Grupo Célula de Gravura acreditamos que estamos trazendo a revitalização da gravura que teve grande repercussão no Espírito Santo, na década de 90, com o Grupo Varal de Gravura composto por professores, artistas e alunos envolvidos com a técnica.

 

Gostaria de acrescentar alguma coisa à entrevista?

 

Gostaria de dizer que essa entrevista, por acaso, veio a coincidir com uma coisa muito interessante. Dias atrás, encontrei-me num determinado local, com um colega que não via há muito tempo e que, por motivos óbvios, não vou declinar-lhe o nome, e ele me disse: “Você está muito bem em sua aposentadoria. Eu estou com tempo sobrando para me aposentar, mas não consigo dar esse passo. Acho que vou precisar ir a um psicólogo para tomar coragem”. Confesso que, no momento, não consegui dizer nada para ele. Mas agora, devo dizer não só a ele, mas a todos que se encontram nesta situação. A aposentadoria é uma conquista, e como tal, não deve gerar sofrimento, mas alegria. Quem tem essa dificuldade, precisa preparar-se para encarar a aposentaria. No meu caso, dois anos antes de tomar a decisão, já frequentava um analista e traçava metas para esse momento que agora saboreio.

 

 



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