Pesquisa mostra a realidade da violência contra a mulher no Brasil

Data da postagem: 08/03/2017

Compreendendo a necessidade de avançar na produção de informações sobre violência de gênero em seus diversos aspectos, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) apresenta nesta quarta-feira (08/03), por ocasião do dia 8 de março e do lançamento do Selo FBSP de Práticas Inovadoras 2017, a pesquisa Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil. Nesta quarta, é lembrado o Dia Internacional da Mulher.


 


A pesquisa, realizada pelo Data Folha, a pedido do FBSP, procura levantar informações sobre a percepção da violência contra a mulher e sobre a vitimização sofrida segundo os tipos de agressão, o perfil da vítima e as atitudes tomadas frente à violência.


 


Entre os dias 11 e 17 de fevereiro de 2017, foram entrevistadas 2.073 pessoas, sendo 1.051 mulheres. Destas, 833 aceitaram responder ao módulo de autopreenchimento a respeito de vitimização e assédio. Leia o infográfico da pesquisa.


 


A pesquisa revela que, em 2016, pelo menos 503 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no Brasil. Isso representa 4,4 milhões de brasileiras (9% do total das maiores de 16 anos). Se forem contabilizadas as agressões verbais, o índice de mulheres que se dizem vítimas de algum tipo de agressão em 2016 sobe para 29%. A pesquisa mostra que 9% das entrevistadas relatam ter levado chutes, empurrões ou batidas; 10% dizem ter sofrido ameaças de apanhar.


 


Além disso, informa o FBSP, 22% afirmam ter recebido insultos e xingamentos ou terem sido alvo de humilhações (12 milhões) e 10% (5 milhões) ter sofrido ameaça de violência física. Há ainda casos relatados mais graves, como ameaças com facas ou armas de fogo (4%), lesão por algum objetivo atirado (4%) e espancamento ou tentativa de estrangulamento (3%).


 


Para a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno, a violência é um "mecanismo de resolução de conflitos" no País. "Somos uma sociedade em que a violência muitas vezes regula as relações íntimas, que aposta na violência como um mecanismo de resolução de conflitos. Por isso números tão altos de mulheres que sofrem violência física, porque isso faz parte do cotidiano e desde muito cedo" , afirma Samira Bueno.


 


Ainda  segundo o Datafolha, 40% das mulheres com mais de 16 anos sofreram assédio dos mais variados tipos em 2016: 20,4 milhões (36%) receberam comentários desrespeitosos ao andar na rua; 5,2 milhões de mulheres foram assediadas fisicamente em transporte público (10,4%) e 2,2 milhões foram agarradas ou beijadas sem o seu consentimento (5%). Adolescentes e jovens de 16 a 24 anos e mulheres negras são as principais vítimas.


 


Professora do programa de pós-graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da UFBA, Maíra Kubik Mano, ouvida pelo G1, afirma que os dados demonstram a desigualdade persistente na sociedade brasileira.


 


"O corpo da mulher continua sendo passível de ser agredido, porque é socialmente considerado público. Faz parte de uma lógica da divisão de tarefas, de trabalho. As mulheres não só vendem a força de trabalho, como fazem trabalho doméstico, cuidam das crianças, dos idosos. Mas isso não é contabilizado como trabalho. É como se essas horas fossem doadas para a comunidade. Isso dá uma sensação de que o corpo não pertence a elas, de que é um corpo público. E se é publico, pode ser apropriado, inclusive por meio da violência. As mulheres ocupam uma posição inferior em termos de hierarquias sociais e a violência é um modo de manter a mulher nessa posição", diz Maíra Kubik Mano.


 


(Com informações do Portal do FBSP e G1)